domingo, 23 de outubro de 2011

O que é um filme fotográfico?

As atuais máquinas fotográficas fazem uso do conhecido sistema de captura de imagem chamado de CCD. São placas especiais cheias de pontos sensíveis à luz, os pixels, reproduzindo a imagem de forma fiel e precisa. Quantos mais pontos mais definida é a imagem. Mas antes da invenção desse recurso eram utilizados os filmes fotográficos para registrar as imagens.

O filme fotográfico é uma fita plástica, normalmente de acetado, recoberta por uma base gelatinosa sustentando uma emulsão de sais de prata (haletos) sensíveis à luz, onde são registradas as imagens desejadas. Ao contrario das atuais maquinas digitais, era necessário um pouco mais de paciência para saber se as fotografias haviam ficado boas, já que não era possível visualizar as imagens logo após terem sido feitas, pois precisávamos revelar os negativos para saber se tudo tinha funcionado e depois fazer copiões, ou provas de contato, para poder selecionar as melhores, e dai então mandar fazer ampliações! Sem contar o espaça necessário para armazenar e guardar os negativos, que exigiam cuidados específicos e atenção pra sua preservação.

Cada filme possui um comportamento à luz, proporcionando uma reação a ela alterando a velocidade de captação da imagem. Essa característica é chamada de sensibilidade, ou ISO (International Organization for Standardization), ou ASA (American Standards Association, americano) ou DIN (Deutsches Institut für Normung, alemão), ou como era chamada na antiga União Soviética, GOST. Então negativos com ISO menores são mais lentos para a captação da imagem ou mais resistentes a luz, possuindo uma quantidade maior de grãos por emulsão, e ISO maior são filmes mais rápidos, ou mais sensíveis à luz, possuindo uma quantidade de grãos menores.

O sistema ISO de classificação segue um padrão aritmético: por exemplo, um filme de ISO 400 é duas vezes mais "rápido" do que um de ISO 200, exigindo metade da exposição. Por outro lado, tem metade da velocidade de um filme de ISO 800, necessitando do dobro da exposição deste. No entanto, quanto maior o número ISO, maior a sensibilidade, e maiores são os grãos, haletos de prata, resultando numa imagem com pouca resolução.

Os ISOs mais comuns são: 32, 50, 64, 100, 125, 160, 200, 400, 800, 1600 e 3200.

Filmes de baixa sensibilidade: ISO 32 a ISO 64. São ideais para o trabalho com muita luz proporcionando imagens bem definidas e com bom contraste permitindo grandes ampliações.
Filmes de média sensibilidade: ISO 100 a 400 são os mais populares para os objetivos gerais. São filmes de granulação fina e ainda permitem trabalhos em condições de luz um pouco mais variadas. Indicados para dias ensolarados (ISO 100) ou nublados (ISO 200) e flashes de baixa potência (embutido na câmera).

Filmes de alta sensibilidade: ISO 800 a ISO 3200. Os filmes desta categoria apresentam um aspecto nitidamente granulado quando são ampliados. São ideais para trabalhos com pouca luz, como ambientes externos à noite, museus, teatros e casas de espetáculos em geral sem necessidade de uso de flash ou quando se necessita de alta velocidade para "congelar" o movimento.

Os filmes fotográficos podem ser coloridos ou em preto e branco. O preto e branco são monocromáticos, sendo sensibilizados por todos os comprimentos de onda de luz visível. Os filmes coloridos possuem várias camadas de haletos sensíveis, sendo cada camada sensível a um comprimento de onda específico, vermelho que formam pigmentos ciano, verdes que formam um pigmento magenta e azul que forma um pigmento amarelo, reproduzindo então as cores do objeto.

As imagens formadas nos filmes fotográficos são contrarias as imagens fotografadas, pois os haletos que são atingidas pela luz é que são sensibilizadas, escurecendo no caso dos preto e branco, ou alcançando cores complementares, no caso das coloridas, dai serem chamados de negativos.

Existem também os filmes do tipo Cromo ou Slide, que reproduzem a imagem tal como ela é, na realidade um positivo da imagem e não um negativo, são utilizados para ser fazer imagens transparentes para serem usadas em projetores.

Formatos

São variados os formatos de filme existentes no mercado. Cada formato tem a sua aplicação específica sendo necessária uma câmera apropriada para cada formato de filme. Existem diversos formatos de filme pelo motivo de que se alterarmos o tamanho do filme alteramos também a qualidade da imagem final (quanto maior o suporte original) maior definição terá a fotografia ou o vídeo final, permitindo assim maior plasticidade a artistas, maior versatilidade a amadores e maior exatidão para aplicações técnicas.

Atualmente, no meio fotográfico, designa-se por "pequeno formato" todos os tamanhos de filmes inferiores ao de 120, como "médio formato" os tamanhos de 120 e 127 e como "grande formato" todos os tamanhos iguais ou superiores a 4x5 polegadas, estes, normalmente dispostos em chapas.

Os formatos de filmes mais comuns em fotografia são:

Pequeno formato

O 16 mm – Formato usado quase em exclusivo nas câmeras Minox (câmeras de pequenas dimensões, conhecidas como câmeras de espião). Neste formato o filme vem contido num chassis blindado com duas bobines no interior. Numa destas bobinas está o pedaço de filme por expor, avançando o mesmo para a bobina seguinte após ser exposto à luz. Este formato por ser tão pequeno, ainda hoje é usado como filme cinematográfico.

O 110 e 126 - Para as câmaras simples de uso amador. Nos tamanhos 110 (retangular) e 126 (quadrado), são fáceis de colocar e retirar.
Maquina MINOX com seu filme em 110 dentro de uma caixinha vedada.

Teve sua época áurea nos anos 70, sendo responsável pela popularização da fotografia, mas hoje se encontra em decadência, decorrente da fragilidade das suas câmeras e pelos resultados inferiores que apresentam, não permitindo grandes ampliações.

Vista explodida de um filme 126 em sua caixa blindada.

Médio formato

O 120 e 220 - Formato em que o filme é enrolado num único pino de plástico juntamente com um papel de proteção a todo o seu comprimento. Destina-se a fazer fotogramas de 60x45mm, 60x60mm, 60x70mm e 60x90mm normalmente podendo variar consoante o modelo de câmera usado. O filme de 120 permite fazer 12 fotogramas de 60x60mm, o formato de 220 tem o dobro de filme, permitindo ao fotógrafo fazer 24 exposições de 60x60mm. Foi amplamente utilizado por profissionais em fotos de estúdio, propaganda e eventos sociais.

Rolos de filme em formato 120 e sua bobina plastica.
O 124 e 127 - Ao longo da história da fotografia existiram diversos formatos desenvolvidos por alguns fabricantes, os quais foram abandonados por estes não se terem tornado norma padrão, são exemplo disso o formato de 124 e o de 127 perfurado, os quais eram semelhantes aos formatos 120 e 220 variando apenas a sua altura (o 124 com 43 mm de altura e o 127 com 73 mm de altura e com perfuração apenas num dos lados da película).
Rolos de filme 127. Estrutura identica aos filmes de formato 120.

O 135 (conhecido como 35 mm) - É o formato mais usado por profissionais e amadores, no qual o filme vem enrolado dentro de uma bobina metálica ou plástica que o protege da luz. Este filme tem perfurações laterais as quais se destinam, em algumas câmeras, a facilitar o avançar e rebobinar do filme. O filme tem o nome de 35 mm pois esta é a medida de largura do filme.
Rolo de filme em 35 mm, ou 135 mm. Bastante conhecido e com certeza o formato mais popular.

Originalmente destinava-se ao cinema, tendo sido adaptado ao uso fotográfico por volta de 1920. Normalmente produzem-se neste formato fotogramas de 24x36mm, podendo em algumas câmeras produzir formatos de 24x72mm, dando origem a fotografias panorâmicas. É o formato com mais opções de sensibilidade ISO e é a categoria de filme que mais recebe inovações tecnológicas pelos fabricantes. Sendo o mais utilizado, seja por amadores ou profissionais, devido à sua versatilidade e disponibilidade tanto para fotos coloridas em papel ou slides, e em preto-e-branco.

Grande formato

Os normalmente usados em estúdio, existindo em diversos tamanhos (4x5 pol., 8x10 pol., 11x24 pol.). Tem a sua aplicação em trabalhos onde é necessária a máxima qualidade, ou em que não é possível proceder-se a ampliação do negativo, por esta propiciar a diminuição da qualidade final da fotografia. Produzem fotografias de alta resolução e extremamente precisas. Normalmente demandam cuidados especiais na conservação e manuseio, sendo utilizados por profissionais de áreas como a arquitetura e publicitária.
Filme de grande formato. Possuem uma proteção especial para cada fotograma devido ao seu tamanho.


Proporção entre os vários formatos de filmes fotográficos.

Cuidados básicos

Os filmes fotográficos requerem cuidados especiais, tais como evitar o calor excessivo, armazenagem em locais secos, ventilados e livres de poeiras. É também aconselhável revelar o filme o mais cedo possível após este ter sido exposto, pois com o tempo vai-se degradando, podendo sofrer alterações na cor. Por essa mesma razão, os filmes têm prazo de validade. Também se deve tomar cuidado, durante viagens em aviões, pedir inspeções manuais dos rolos de filme, pois se passados pelos aparelhos de raios-X podem ser danificados. Normalmente os filmes de alta sensibilidade (ISO 800 ou superior) são mais suscetíveis a danos. Uma boa opção é armazenar os filmes na geladeira, o que ajuda a prolongar o tempo de vida dos componentes químicos que o compõem.


Alexandre Rabelo.





BUSSELLE, Michael.Tudo sobre fotografia. Circulo do Liveo S.A.

http://www.juliofranca.net/2010/05/instamatic-177-xf/

http://www.ortensi.com.br/fotografia/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Filme_fotogr%C3%A1fico

http://belezasdecedral.blogspot.com/2011/02/tipos-e-formatos-de-filmes-fotograficos.html





segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Quantos megapixels tem sua câmera?


Antes de comprar a minha primeira câmera fotográfica que é, pois ainda a tenho, uma Mirage Kmax 3.1 megapixels, eu não sabia nada sobre pixel, megapixel, nem coisa alguma, não que hoje eu saiba muito, mas o fato é que eu fui muito feliz com essa câmera, quando ela parou de funcionar bem, eu passei a usar uma Sony Cyber Shot de 12.1 megapixels da minha irmã, fora a cor, que é rosa, é uma câmera de qualidade da imagem muito boa, mil vezes melhor que a minha Mirage, me sentia a fotografa com essa câmera.


Mirage Kmax 3.1
Sony Cyber Shot 12.1











Hoje tenho uma humilde Nikon D40 de 6.1 megapixels e, sempre que alguém me vê com ela, já vêm logo me perguntando quantos megapixels tem minha câmera, e o que eu escuto logo em seguida é: Nossa, é pouco!

Nikon D40

Vamos esquecer um pouco os pixels, e falar das câmeras digitais que estão bastante presentes na vida das pessoas. Surgiu na década de 1960, e se tornou possível graças ao trabalho do físico Theodore Maiman, com o desenvolvimento do laser rubi, uma haste de rubi que bombeada com energia bastante alta, normalmente por um tubo de flash, até que se alcance uma inversão de população (população de átomos no estado excitado > que a população de átomos no estado de equilíbrio), depois de detectar várias utilidades do laser rubi, descobriu-se que dentre as aplicações do laser, ele era capaz de armazenar dados. Outra invenção que contribuiu para a fotografia digital foi o dispositivo de carga acoplado, CCD (Charge- Coupled- Device), um dispositivo que é sensível a luz, de maneira eletrônica ele permite a conversão da luz em cargas elétricas, transformando assim a imagem capturada analógica em digital. O CCD começou a ser produzido nos anos 1970 pela empresa Dell, unindo conceitos das tradicionais câmeras com os princípios da eletrônica.

Canon RC -701, ano de 1996


Foi a Kodak que lançou a primeira câmera CCD e eletrônica no mercado, diversos modelos surgiram na década seguinte, porém poucas pessoas usavam esse tipo de equipamento, devido sua baixa resolução e preços muito elevados, fazendo com que os fotógrafos continuassem a utilizar as câmeras convencionais que eram superiores às digitais e mais em conta.

No final do século passado, cresceu o número de vendas de computadores, o que acabou por impulsionar o desenvolvimento de câmeras digitais melhores e muito mais potentes do que as fabricadas até então. A internet de certa maneira também acabou por contribuir para as modificações nas câmeras digitais, pois as redes sociais e o fácil compartilhamento de imagens tornaram maior a busca por equipamentos digitais, as câmeras ficaram mais praticas, menores e mais fáceis de utilizar, se popularizando entre as pessoas de uma maneira geral, sem ficar restrita aos fotógrafos profissionais.

A foto, feita nas câmeras tradicionais, são capturadas pelo processo analógico e a imagem é gravada no filme pela luz, por causa dos alelos de prata e componentes de emulsão química, a luz passa por um conjunto de lentes até que chegue ao filme, que exposto a luz, reage, já nas câmeras digitais, como é de conhecimento, não se têm filme, o componente responsável pela captura da imagem é o CCD, que é fotossensível, e a imagem nesse caso também só existirá devido à luz, que será sensibilizada através do CCD, existe também o fotomultiplicador (encontrado em scanners cilíndricos) ele também é um dispositivo de captura de imagem eletrônica com um desempenho bem mais potente que o CCD.

O nosso filme fotográfico foi trocado pelo CCD, pronto, foi apenas isso, entretanto, todo o processo digital envolvido, é que é uma coisa completamente diferente, outra conversa, assunto para um novo post. Tudo o que antes era feito, tentativas, erros e acertos e, dentro de laboratórios escuros, hoje é realizado em nossos computadores, os computadores se tornaram verdadeiros laboratórios, e todo o conhecimento sobre revelação está mudando, e uma nova linguagem surgiu, interpolação, DPI’s, Pixels, Photoshop, Tif’s, Jpegs, escaneamentos e, mais um monte de termos.

Na hora de comprar uma câmera, devemos levar em conta os motivos pelos quais desejamos adquiri-la, pois temos no mercado câmeras digitais a partir de R$ 200,00 até câmeras que custam o valor de um carro de luxo. Portanto escolher uma câmera digital depende mesmo, pois nem sempre pode ser uma boa escolha, optar pelo equipamento mais caro e mais potente. Assim como também pode ser um equivoco levar apenas em consideração quantos megapixels uma câmera tem. 

Hasselblad H4D- 200 MS

O megapixel é a quantidade máxima que a fotografia digital consegue capturar e armazenar em uma imagem, determinando assim o tamanho máximo de ampliação de uma fotografia. Obviamente, uma câmera com muitos megapixels, da para se fazer recortes nas fotografias, e ampliá-las com menos ruídos, porem se aprendermos a lidar melhor com nosso equipamento, conhecendo suas especificações, podemos fazer fotos de maneira correta, com menos ruídos. A resolução ideal para se imprimir uma foto deve ser entre 240 a 300 DPI’s. E uma câmera de pelo menos 5 megapixels, já dá muito bem para fazer boas fotos.

Não é aconselhável você fazer um grande investimento em um equipamento se está começando agora, ou não trabalhe profissionalmente com fotografia, pense no custo beneficio, não desista de sua câmera tão cedo, a conheça melhor, aproveite-a, e quando sua necessidade for mudando, sua câmera também irá, a não ser que você tenha dinheiro para investir em um equipamento potente e caro. Use sua criatividade e se divirta, pois tem um pessoal aí que conheço, que faz fotos até em caixa de fósforos.



  • Resolução: quantidade de pixel de uma imagem, quanto maior a resolução mais pixel e melhor a imagem.
  • Pixel: aglutinação de elementos de uma imagem, um pixel equivale ao menor ponto que forma uma imagem.



Foto feita com a Mirage Kmax 3.1
Foto feita com Sony Cyber Shot 12.1
Foto feita com Nikon D40


 






quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Preço de Equipamentos Fotográficos

O preço encontrado nos poucos lugares aqui em Goiânia que vendem equipamentos mais profissionais como câmeras Reflex e flash’s dedicados são caros e com pouca variedade, e o que é pior, a maioria dos equipamentos não está a pronta entrega. Com certeza é um tiro no escuro para quem está comprando, investir em um equipamento sem testá-lo e ver se rola a empatia certa.


Acredito que se alguém fizesse uma pesquisa entre pessoas que usam equipamentos semiprofissionais e profissionais, mais da metade alegaria que usou de formas pouco lícitas para a aquisição (ou seja, o contrabando).

Se entramos em um site de vendas estrangeiros pela internet podemos encontrar valores bem mais atraentes do que os praticados aqui no Brasil. A lógica é simples, importamos tecnologia. Então é claro que para os americanos as câmeras serão mais acessíveis. Até ai tudo bem. Mas o problema que eu vejo são os altos impostos de importação praticados no Brasil para esse tipo de equipamento.

Entendo que nossa pátria tenha que conseguir verbas de todos os lados, mas acho que os impostos para tais equipamentos deveriam ser menores, já que não possuímos concorrentes nacionais para competir com essas tecnologias.

Para entender o preço final dos equipamentos é apenas considerar o preço nativo do produto, sendo por base aquele que encontramos em dólar em sites estrangeiros como BH, e somamos a esse valor:
1.    Valor de importação.
2.    Valor de frete.
3.    Lucro do importador.
4.    Lucro do revendedor.
5.    E como em Goiânia não temos revendedores diretos dos importadores, adiciona-se o lucro das lojas que compram do revendedor.

Uma boa possibilidade é comprar pelo Mercado Livre. Pois aí teríamos apenas quatro adicionais de valores e compraríamos produtos que já estão no Brasil (em sua maioria). Porém o medo é grande de comprar uma câmera de aproximadamente dois mil reais pela internet, e neste caso o medo é bom, pois te leva a ver todos os detalhes e pesquisar a integridade do vendedor, mas como diz o ditado: quem não arrisca não petisca...

Autor: Cleiton Oliveira

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Álbum de família

Desde criança encantam-me os álbuns de fotografia de família, aqueles onde se enfiavam as fotos em saquinhos plásticos, ou aqueles grandes e desengonçados onde as fotos eram coladas. Saudosista? Talvez. Coisa de imigrante digital no início da casa dos 30. Ficando velha? Sim. Todo saudosista é alguém que está ficando velho, rememorando com saudade o que passou.




Minha mãe, Letícia, na Praça Cívica no centro de Goiânia em 1978. Fotógrafo: meu pai, José Milton.
Formato da foto: 12,5 x 9 cm. Filme colorido. Papel fotográfico: Kodak. Câmera Leica, analógica.



Ultimamente, tenho refletido muito sobre a fotografia pra reforçar nossa memória e contar histórias do cotidiano, ou seja, não me refiro às fotografias de personalidades famosas, nem às dos livros de História, mas às de pessoas comuns, dos álbuns de família. Nelas, além da história de nossos familiares, há história do nosso próprio tempo: podemos observar registros de moda; personalidade da pessoa retratada; estilo do fotógrafo principal da família (o pai, o tio?); decoração; arquitetura; carros da moda; a cidade; diferentes tipos de papéis e películas fotográficas; o ISO; os químicos e, se muitos sagazes, até deduzir qual o modelo de câmera usado, se não mais tivermos o parente ou o amigo fotógrafo com a memória ativa pra nos contar qual seria.



É uma forma de subverter a História tradicional, dos grandes feitos, dos grandes heróis. De direcionar nosso olhar para focar os que também constroem a História no cotidiano. Quem é você? Qual é a sua história? Como você se posiciona na História? Outra História da Fotografia, a história do “estilo amador”, dos fotógrafos anônimos, dos álbuns de família da era analógica, pré-digital.



Minha mãe de calça cor mostarda nos brinquedos do Parque Mutirama em Goiânia com amigas de faculdade, 1972. Quem é de Goiânia, sabe que esses brinquedos existem iguaizinhos ainda por lá, veremos depois da modernização do parque que está acontecendo neste ano de 2011. Os cilindros de concreto existiam naquela época na Praça do Avião em Goiânia.



Se já quase não mais temos o hábito de mandar fazer as ampliações de nossas fotos em papel fotográfico e colocá-las em porta-retratos em cima do aparador, ou de pegarmos os álbuns guardados com cheirinho de químicos envelhecidos e mostrarmos praquela visita que vem à nossa casa uma vez na vida, continuamos nos mostrando na Internet e disseminando nossas fotografias para mídias digitais diversas. E a visita nem precisa vir até nós, nossas imagens vão aonde elas estiverem, espalham-se ao mundo, ao mundo...



Nossas fotos deixam de ser nossas ou só de nossas famílias, deixam de ser aquela segunda cópia que presenteávamos um amigo querido e, ainda, lhe escrevíamos uma dedicatória no verso com Bic azul e colocávamos a data. Digitalizadas, nossas imagens passam a ser quantas vezes forem copiadas e visualizadas por quantos (des)conhecidos as curiarem. É uma nova “era da reprodutibilidade técnica”.



Verso da foto com "areia" mais adiante.

A dedicatória com Bic azul ou preta, com lápis grafite, perdeu espaço para um comentário digitado de natureza qualquer... Ao invés de escrevermos os nomes dos que na foto aparecem, podemos também indicar os presentes (e aos presentes), marcando-os para que através de links, o curioso internauta seja encaminhado ao perfil de tais pessoas, caso essas também façam parte da mesma rede social.


Quando minha mãe nasceu, em 1944, não era muito comum que as famílias tivessem câmeras fotográficas, então, costumavam-se contratar fotógrafos profissionais para registrarem os momentos especiais e os retratos de família.




Foto 1: Em 1960 com uniforme de gala aos 16 anos em casa, Porto Nacional (ainda antigo estado de Goiás). Foto 2: Com uma colega de ginásio em 1964, no dia da formatura à porta do Colégio Estadual de Porto Nacional. Foto 3: Num barco no rio Tocantins em 1970. Foto 4: Em Goiânia, 1965, com Raimunda (amiga), Lenita (irmã), Letícia (mamãe) e Adaltides (prima). Filmes P&B, papéis lisos brilhantes, formatos variados entre 6,5 a 10 cm.

Dos álbuns de minha mãe, aprecio muito suas fotos do período dos anos 1970, quando ainda eu não era nascida. Dez anos antes, desde os anos 1960, eram os tios, primos, amigos e o irmão de minha mãe (todos homens) e mais “descolados”, que ficavam responsáveis por registrarem os momentos com suas câmeras analógicas mui “modernas”, de ferro e pesadas: Leica, Kodak, Pentax, Polaroid.


Minha mãe aos 17 anos em 1961, no quintal da casa da minha avó Luísa na Rua 77, nº150, Centro de Goiânia. Foto "batida" pelo seu primo, Sansão, provavelmente com uma câmera Kodak, segundo ela. Filme P&B, papel fotográfico não identificado, fosco, com 180 gr., aproximadamente. Formato: 10 x 7 cm.


Mais tarde, ao final daqueles anos, seu melhor retratista acabou sendo meu pai:


Em 1978, na sala de jantar na casa da Rua 62, nº12, Centro, Goiânia. Casa que não existe mais, onde nasci quase 2 anos depois. Fotógrafo: meu pai, José Milton. Câmera: Leica, emprestada pelo meu tio Uriel. Filme colorido. Papel fotográfico: Kodak. Formato: 12,4 x 8,8 cm.



Uma das coisas interessantes nas fotos de minha mãe são os formatos e as bordas brancas em ondinhas e retas. Há foto preto-e-branco mais conservada do que algumas coloridas, estas já em tom sépia, desbotadas. Algumas vinham minúsculas, em monóculos, pra direcionarmos estes à luz e visualizarmos através de uma pequena lente acoplada, o diminuto fotograma.




Época de faculdade em Brasília, 1973. Filme colorido. Papel liso brilhante. Formato: 9 x 12,5 cm.



Nos álbuns da juventude de minha mãe do início dos anos 1960 ao final dos anos 1970, não existem fotografias dela em papéis de gramatura muito espessa, nem com texturas muito pronunciadas. Os papéis eram brilhantes e vezes foscos. Mas, a cada tipo de câmera, papel ou laboratório fotográfico, um formato diferente de fotografia.




No Zoológico de Goiânia em 1978 com meus primos: Ricardo e Ana Cristina. Foto tirada pelo meu pai.

Para um fotógrafo amador com uma câmera analógica, especialmente quando esta era compacta, tirava-se a foto quase como no escuro, pois não tendo um super visor de LCD de 2 a 3.5 polegadas como nas câmeras digitais atuais e, somente um pequeníssimo visor ao olho, de poucos centímetros, era comum o “erro de paralaxe”. Erro ocorrido quando se achava que se ia fotografar exatamente o enquadramento visto pelo visor, mas que na verdade, a composição saia "mais pra lá" após o filme revelado e a foto ampliada. O visor não correspondia à visão real do objeto a ser fotografado, por se localizar em posição diferente do foco da objetiva, assim, era comum a foto não sair com o recorte escolhido durante o ato fotográfico.


Naturamente, o erro de paralaxe vinha aliado ao amadorismo de se fotografar mais a parede e o teto do que a pessoa retratada, mais a areia e cortar pessoas que estavam posando para a foto em um grande grupo a caminho da praia, ou de se posicionar a câmera na vertical, ao invés da horizontal, posição que seria mais adequada para a foto do grupo em questão - o que pode se tornar um charme a olhos não convencionais em consagração ao "estilo amador".



Em Luís Alves-GO, 1974, rumo à praia do rio Araguaia. Tava frio no início da manhã! Mamy's é a última à direita, sem chapelão a la mexicano! rs Filme colorido. Papel fotográfico liso, brilhante. Formato: 8,8 x 12,1 cm.



Claro que, os técnicos ou mesmo os fotógrafos que eram também responsáveis por operarem os ampliadores em seus laboratórios podiam, de acordo com a sensibilidade estética de cada um, corrigir no ampliador na sala ou quarto escuro de revelação o enquadramento do “estilo amador”. Exatamente igual ao que fazemos hoje usando programas de edição de imagens, como o Photoshop ou o Ligthroom. Ajeitavam o recorte no ampliador e podiam ajustar o tom, a luminosidade e o contraste quando submergiam o papel fotográfico já sensibilizado nas bandejas com os químicos que fariam aparecer e fixar a imagem ali projetada.


Minha mãe montava exposições artísticas na escola onde ministrava aulas de Geografia e Artes Industriais, suas duas formações acadêmicas, cultivava samambaias em casa, cactos e um jardim de rosas, lia revistas de decoração, dirigia Fusca e ouvia o iê-iê-iê de Roberto Carlos e da Jovem Guarda.




Na sala de Artes Industriais no Colégio Estadual Polivalente Modelo de Goiânia, 1973. Atual Colégio Militar, na T-08 com T-47, Setor Bueno em Goiânia. Exposição de artes e maquinário usado com os alunos. Fotos tiradas pelos seu primo, Sansão!


Infelizmente, ela não foi uma moça descolada, nem porra-louca, não militou contra a Ditadura, não participou de movimentos feministas, nem grevistas. Até chegou a usar alguma ou outra referência da moda hippie, ministrou aulas pra alunos cabeludos e “hippongas” quando concursada em Brasília, mas nunca fora uma. Fato perceptível nas fotografias em suas poses: sempre muito contidas, com muita timidez na linguagem corporal, sem grandes gargalhadas ou galhofas; roupas comportadas de “moça de família” – o que era esperado que fosse, uma “filha de mãe viúva, criada sem pai” em Porto Nacional, uma cidadela que pertencia ao antigo estado de Goiás, atual Tocantins.