Um
dia eu estava olhando fotos com minha irmã, ela disse que o que a fazia curiosa
com relação a fotos, não era a foto em si, mas ela tinha uma curiosidade em saber
quem havia tirado aquela foto. Realmente!
Comecei
a olhar as fotos de outra maneira, tentando enxergar quem estava atrás da foto,
quem era o olho por trás do olho.
Em
cada uma que olhava imaginava, para quem era aquele sorriso, ou aquele olhar o
que se passava ali por trás da câmera fotográfica, o que pensava, como pisavam
os pés de quem registrava aquela paisagem, e quão delicioso se tornou esse
exercício de adivinhações, essa brincadeira de achar o escondido.
Foto: Lizandra Olavrak/ Alexandre Rabelo e Franco Neto |
(1. O quê procuravam?)
Foto: Lizandra Olavrak/ Alexandre Rabelo |
( 2. Do quê precisava?)
Nas
fotografias caseiras, eu tentava achar o fotografo no reflexo dos olhos das
pessoas, nas sombras, tentando encontrar ali a imagem de quem eu realmente
gostaria de ver, para mim passou a ser assim: O fotografo era a foto. E me
lembrei que bem antes dessa questão vir a minha mente como agora, eu já fazia
esse tipo de investigação quando era criança, passava horas observando apenas
uma foto, procurando por vestígios de uma pessoa que havia ficado fora de uma
foto de aniversário ou de um passeio onde todos os amigos estavam, ou pelo
menos os queridos, em saber quem era a pessoa que foi convidada à tirar uma
foto, porque alguém queria aparecer ao lado do namorado ou namorada em um
passeio romântico.
Foto: Lizandra Olavrak/ Cleiton de Oliveira e Alexandre Rabelo |
(3. Para onde apontam suas lentes?)
Algum
tempo depois disso, comecei a brincar de fotografar as pessoas,
lugares e coisas que na maioria das vezes só eu achava interessante, tentando
captar o que apenas eu via, e comecei a ser essa figura que está lá, mas não
vemos. Quando mostro as fotos para as outras pessoas ou mesmo para as que
fotografei, imagino o que elas estão pensando, em quem está por trás do olhar
da câmera fotográfica, quem eu era naquele instante em que apertei o disparador,
qual era ali o dialogo que tínhamos, eu minha câmera o modelo a paisagem ou o
que só a mim interessava, o que conversávamos mesmo sem emitir um som se quer,
o que eu queria, o que queríamos.
Foto: Lizandra Olavrak |
(4. O que eu queria, o que seu olho me diz?)
Foto: Lizandra Olavrak |
(5. O que seu olho me responde?)
Foto: Naira Rosana Dias |
Depois
de algum tempo, eu volto a olhar as fotos, sempre acabo percebendo uma coisa
que não existia antes e que não era centro de minhas atenções quando
fotografei, penso: Quem foi que focou isso? Não posso responder a pergunta,
porque em alguns momentos, a própria câmera fotográfica se encarrega de olhar o
que eu não vejo e ela por si só me revela o que eu não via, e outro pensamento
me vem: Qual o dialogo que tínhamos, eu e a minha câmera? Conversa de louco,
mas penso que é assim mesmo que vivo nesses momentos.
Quando
vou fotografar, quando vou apenas matar, ou melhor, quando eu vou ressuscitar a
vontade, me esqueço de técnica, formulas, ensinamentos, ou qualquer coisa que
saia de livros, apostilas ou aulas, nem sei tanta coisa assim para esquecer,
mas não me importo com isso, porque em momentos assim, isso não me serve, não
tem o menor valor, não nesse momento, porque atrapalharia meu dialogo
silencioso com o que meus olhos escutam, e ela, minha câmera, assim parada em
minha mão e pendendo para um lado, apenas espera que eu mostre o que ela terá
que retirar para a eternidade do momento, eu mostro e, ela faz o seu papel
perfeitamente. A imagem que vejo depois na tela luminosa do monitor do meu
computador, é algo que não foi eu quem fez, é assim que na maioria das vezes
penso, e por isso estou sempre ali, como no inicio, procurando vestígios de mim
mesma, procurando por pedaços que possam me contar a história daquela foto,
procurando pela parte que não se vê.
Foto: Caroline Albuquerque |
(como pisava ...)
(Como me posicionava...)
A
fotografia tem esse lado fascinante, você pode olhar uma foto de séculos, e
poder viajar naquela imagem e buscar histórias, inventar um nome, um lar,
deixar a imaginação vagar em busca do que nunca vamos poder decifrar, embora se
tente. É a mágica do instante parado, que mesmo com a instantaneidade das
câmeras digitais, ainda existe.
Descobri
o que me faz gostar tanto de fotografar, e não é o prazer em congelar um
instante que jamais se repetirá, mas estar atrás do sabor do olho que está
atrás do olho.
Auto retrato |
(6. Por que eu mesma?)
" As imagens são representações aguardando um leitor que as decifre"
Miriam Moreira Leite
por: Lizandra Olavrak
Para saborearem um pouco
Mas não sou só eu, obviamente, quem tem essa mania não, o fotografo Tim Mantoani, realizou um projeto, onde reuniu fotógrafos posando ao lado de suas fotografias famosas, ele fez um trabalho belíssimo ao reunir, obra e autor, colocando-os lado a lado. Essas imagens estão no livro de Mantoani, "Behind Photographs".
Fotografo Jeff Widener |
Fotografa Karen Kuehn |
Fotografo Lyle Owerko |
Fotografa Mary Hellen Mark |
Fotografo Steve Mccurry |