Nascido em Nice, na França, mas radicado na Vila São Carlos no interior paulista (atual Campinas), Hercule Florence (1804-1879) desenvolveu, em 1933, um pioneiro processo fotográfico chamado por seu criador, Photographie. Somente seis anos mais tarde Louis Jacques Mandé Daguerre (1787 – 1851) apresentaria o seu Daguerreótipo, aparelho considerado o precursor das modernas máquinas fotográficas, à Academia de Ciências de Paris. Florence costumava se lamentar pela falta de recursos do país e pela distância que o separava da fonte dos saberes eruditos da época, a Europa, mas seu infortúnio ajudou a fazer com que o Brasil tomasse parte no conjunto de esforços que iriam dar na invenção da fotografia.
Em 1830, insatisfeito e sem meios para publicar um tratado científico sobre o canto dos pássaros, inventou sua própria técnica de impressão a Polygraphia. Dois anos mais tarde, tentava reproduzir não apenas tipos e desenhos no papel, Florence era também desenhista, mas também imagens captadas por uma câmara escura. Adaptou uma lente de óculos ao orifício da câmara e um espelho para corrigir a imagem invertida, acrescentou ao engenho uma folha de papel embebida em nitrato de prata e posicionou o conjunto sobre uma cadeira disposta à frente de uma janela. Depois de algumas horas de exposição, obteve um registro em negativo. A prova, no entanto, sem o componente químico necessário para deter o processo de revelação, enegreceu.
Florence estava agora disposto a fazer permanecer a imagem na folha de papel. Conta-se que tentara de tudo: urina, ácido muriático, uma mistura de ácido nítrico e ouro em pó, amônia e amoníaco cáustico dissolvido em água. Depois de várias experiências malsucedidas chegou a um método eficaz que consistia em combinar banhos em água salgada; aplicação de hidróxido de potássio; e, por fim, o uso de espírico de amoníaco - um composto obtido pela fervura de ácido espírico e amoníaco cáustico - sobre a folha impressionada pela luz. É a esse processo que Florence batizou com o nome Photographie.
Apesar de registrar todo o seu percurso em diários e anotações minuciosas, o reconhecimento do feito de Hercule Florence viria apenas muito tempo depois de sua morte. Particularmente, o trabalho de Boris Kossoy, com a publicação do livro Hercule Florence – A descoberta isolada da fotografia, já em 3º edição de 2006, tem ajudado a escrever o nome do inventor entre os “descobridores” da fotografia.
Em tempo, a relação do Brasil com a fotografia não é singular apenas a este respeito. De acordo com um verbete da Enciclopédia Encarta, o imperador Pedro II foi um fotógrafo amador, e precoce, teria começado a aprender a técnica na idade de 15 anos. Mais tarde, como uma espécie de mecenas da fotografia, concederia o título Photographo da Casa Imperial à dupla Buvelot & Prat a 8 de março de 1851, a primeira honraria dessa categoria concedida por um soberano. Dois anos antes do título concedido pela Rainha Vitória da Inglaterra ao retratista Antoine Claudet.
A.F.N
Fontes:
KOSSOY, Boris. Hercules Florence - 1833 - a descoberta isolada da fotografia no Brasil.
ENCICLOPEDIA Microsoft Encarta.