domingo, 25 de setembro de 2011

O Brasil e a invenção da fotografia


Nascido em Nice, na França, mas radicado na Vila São Carlos no interior paulista (atual Campinas), Hercule Florence (1804-1879) desenvolveu, em 1933, um pioneiro processo fotográfico chamado por seu criador, Photographie. Somente seis anos mais tarde Louis Jacques Mandé Daguerre (1787 – 1851) apresentaria o seu Daguerreótipo, aparelho considerado o precursor das modernas máquinas fotográficas, à Academia de Ciências de Paris. Florence costumava se lamentar pela falta de recursos do país e pela distância que o separava da fonte dos saberes eruditos da época, a Europa, mas seu infortúnio ajudou a fazer com que o Brasil tomasse parte no conjunto de esforços que iriam dar na invenção da fotografia.

Em 1830, insatisfeito e sem meios para publicar um tratado científico sobre o canto dos pássaros, inventou sua própria técnica de impressão a Polygraphia. Dois anos mais tarde, tentava reproduzir não apenas tipos e desenhos no papel, Florence era também desenhista, mas também imagens captadas por uma câmara escura. Adaptou uma lente de óculos ao orifício da câmara e um espelho para corrigir a imagem invertida, acrescentou ao engenho uma folha de papel embebida em nitrato de prata e posicionou o conjunto sobre uma cadeira disposta à frente de uma janela. Depois de algumas horas de exposição, obteve um registro em negativo. A prova, no entanto, sem o componente químico necessário para deter o processo de revelação, enegreceu.

Florence estava agora disposto a fazer permanecer a imagem na folha de papel. Conta-se que tentara de tudo: urina, ácido muriático, uma mistura de ácido nítrico e ouro em pó, amônia e amoníaco cáustico dissolvido em água. Depois de várias experiências malsucedidas chegou a um método eficaz que consistia em combinar banhos em água salgada; aplicação de hidróxido de potássio; e, por fim, o uso de espírico de amoníaco - um composto obtido pela fervura de ácido espírico e amoníaco cáustico - sobre a folha impressionada pela luz. É a esse processo que Florence batizou com o nome Photographie.

Apesar de registrar todo o seu percurso em diários e anotações minuciosas, o reconhecimento do feito de Hercule Florence viria apenas muito tempo depois de sua morte. Particularmente, o trabalho de Boris Kossoy, com a publicação do livro Hercule Florence – A descoberta isolada da fotografia, já em 3º edição de 2006, tem ajudado a escrever o nome do inventor entre os “descobridores” da fotografia.

Em tempo, a relação do Brasil com a fotografia não é singular apenas a este respeito. De acordo com um verbete da Enciclopédia Encarta, o imperador Pedro II foi um fotógrafo amador, e precoce, teria começado a aprender a técnica na idade de 15 anos. Mais tarde, como uma espécie de mecenas da fotografia, concederia o título Photographo da Casa Imperial à dupla Buvelot & Prat a 8 de março de 1851, a primeira honraria dessa categoria concedida por um soberano. Dois anos antes do título concedido pela Rainha Vitória da Inglaterra ao retratista Antoine Claudet.

A.F.N

Fontes:

KOSSOY, Boris. Hercules Florence - 1833 - a descoberta isolada da fotografia no Brasil.

ENCICLOPEDIA Microsoft Encarta.

Um comentário:

  1. Salve, Franco! Publicou um excelente post e só assinou com as iniciais?
    Sempre falo que a fotografia é filha de vários pais porque foi o somatório de descobertas variadas no decorrer da História, por inúmeros inventores. Há um livro ótimo (e muito grosso) que trata sobre os brinquedos e parafernálias óticas que desembocaram no cinema e também na fotografia: "A Grande Arte da Luz e da Sombra" de Laurent Mannoni. Nele há relatos de como, muitas vezes, um inventor registrava uma ideia que não havia sido só sua e ganhava todas as honras para si, por tê-la primeiro registrado.
    Assim, o vocábulo "fotografia" ou “escrita com luz”, também vem sendo discutido nestes tempos de agora da fotografia digital, virtual, dos bits e bytes, dos códigos binários. O que era analógico, material e precisava de papel, químicos, ampliadores e até de água. Neste tempo em que estamos cada vez mais inseridos na cibercultura ou na cultura da mobilidade, onde se configuram transmissões de dados possibilitados pelas tecnologias móveis donde reinam celulares, GPS, Ipads, notebooks, interligados em rede Wi-Fi e, naturalmente, onde imagens imperam, resta-nos (re)significar a fotografia enquanto "escrita com luz" mas também, vislumbrando o passado. Pois se aqui chegamos, obviamente, tivemos toda uma História alicerçando todo o desenvolvimento tecnológico de agora.

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